domingo, outubro 31, 2004

O encontro da Arte com a Ciência

Fui, no passado dia 27, ao Teatro da Trindade, ver a peça 'Picasso e Einstein'. O que dizer sobre esta peça de Steve Martin, actor americano conhecido entre nós com filmes como 'O Pai da Noiva'? Para dizer mal só mesmo queixar-me do facto da peça ter estreado em Chicago em 1993 e só onze anos depois ter chegado a Portugal.
À parte esse pequeno defeito, a que, infelizmente, nós portugueses começamos a habituar-nos, a peça é perfeita. Perfeita no tema, perfeita no guião, perfeita nas interpretações.
Começando pelo tema: a fusão entre a Arte e a Ciência, o modo como estas podem caminhar a par é tema sobejamente interessante e, apesar de ser tratado com uma certa leveza e muito humor, não deixa de ser um tema profundo e merecedor de discussão.
Picasso e Einstein, no ano de 1904, encontram-se no bar francês 'Au lapin agile' (um encontro que, muito provavelmente, nunca aconteceu). Einstein está a um ano de mudar o curso da Humanidade, com a publicação da Teoria da Relatividade. Picasso está a três anos de desenhar a sua consagração enquanto um dos pintores mais importantes do século XX, com o quadro 'Les démoiselles d'Avignon'. É um Mundo à beira da mudaça, sem se dar conta disso.
Picasso e Einstein travam o mais engraçado e, simultaneamente, mais interessante dos diálogos, tanto entre si como com outras personagens de menos relevância que surgem em cena.
Destaco o trabalho belíssimo de actores como Pedro Górgia, Sofia de Portugal, João Didelet (e Ricardo Carriço, o Elvis mais improvável e ainda assim, mais plausível, como um deus moderno a profetizar o futuro com lantejoulas). São prestações absolutamente notáveis, que colocam, para mim, estes actores, num patamar muito acima daquele que eu calculava para eles.
É fácil perceber que ADOREI a peça, que saí de lá com pena de ter sido uma hora e meia tão curta. Recomendo-a vivamente. Para aqueles que dizem que o teatro está caro, e com quem eu concordo absolutamente, não deixem de ver esta peça porque o preço é bastante acessível (paguei 8 euros por um bom lugar). Não percam esta oportunidade de ver bom teatro, com bons actores portugueses.

Ah! Li algures que a versão cinematográfica (e infelizmente, hollywoodesca) da peça está já na fase de pós-produção. Acho que não demorará onze anos a chegar até nós. Assim espero. Posted by Hello


Texto também publicado no blog http://memorialstone.blogspot.com

sábado, outubro 16, 2004

High Culture vs. Popular Culture

«In a methodological short cut, 'art' has become the oppressive Other for cultural studies that allows popular culture to define itself as popular. The empirical basis for this casual division of culture into two is often derived from Pierre Bourdieu's sociological study of the uses of culture, undertaken in 1963 and 1967-68. By analyzing the responses of a 1,200 person sample, Bordieu argued that social class determined how an individual might respond to cultural production. Rather than taste being a highly individual attribute, Bourdieu saw it as a by product of education and access, generating a 'cultural capital' that reinforced and enhanced the economic distinctions of class. His study was an important rejoinder to those who believed that appreciation of 'high' culture was simply a mark of intellectual quality that served to distinguish between the intellectual elites and the masses.
(...)
If we extend the definitions of art beyond the formal realm of the art gallery and museum to include such practices as carnival, quilting, photography and computer-generated media, it quickly becomes obvious that the neat division between 'progressive popular culture' and 'repressive high art' does not hold. The role played by culture of all varieties is too complex and too important to be reduced to such slogans.»

MIRZOEFF, Nicholas. An introduction to Visual Culture. Routledge, London and New York, 2004. Pp. 11-12

Se alguém souber responder...

porque é que, nos debates da Assembleia da República, que gosto de seguir com a maior atenção, sempre que a deputada d' Os Verdes intervém, a maioria dos presentes abandona a sala? Há algum motivo plausível para aquela tremenda falta de respeito a que assisto constantemente? A sério que gostava de saber... Se alguém souber...

sexta-feira, outubro 15, 2004

Um exemplo

Para aqueles que não conhecem Lobo Antunes (e são bastantes as que conheço nessa situação), deixo aqui um exemplo de uma das muitas crónicas que o autor já escreveu. Não é sequer das minhas preferidas, é apenas um exemplo. Um exemplo da escrita genial de um autor português, amado por uns e odiado por outros. Até aceito que não gostem; desconhecê-lo é que é uma grande perda.


O fim do mundo

Isto pode ter acabado mas não sou tão parvo que vá chorar à tua frente. Pelo contrário: apareço-te com um sorriso como se não fosse nada, sento-me à mesa, ponho o guardanapo ao pescoço por causa dos salpicos na camisa
(a minha mãe, coitada, que já vê mal, vê-se grega com as nódoas)
digo
-Boa noite Manuela
e como a sopa até ao fim, a falar disto e daquilo, sem dar a entender que estou triste, que tenho um nó na garganta, que sinto a minha vida em cacos porque juro-te que não sou tão parvo que vá chorar à tua frente. Tu levantas-te, tiras-me a colher, pões o meu prato em cima do teu, trazes o arroz de coelho da cozinha e eu a abrir uma garrafa de cerveja que às vezes sempre ajuda um bocadinho a dissolver a tristeza e o nó na garganta e enquanto me sirvo do arroz fico à espera que me fales do Carlos.
No fundo pode ser que a culpa seja minha por adiar constantemente o casamento contigo, vir aqui às segundas e às quintas e ir-me embora à uma da manhã com a desculpa de que a velhota precisa da minha ajuda, que com a idade deixa a porta aberta e se esquece do gás, que sou filho único e só me tem a mim quando a verdade é que os compromissos me assustam, me assusta a ideia de quereres ter crianças
(não tenho jeito nenhum para crianças)
e com tantas desculpas e tantos adiamentos era mais que certo que acabavas por te cansar e se não fosse o Carlos era outro, o Carlos pelo menos é um rapaz sossegado, gosta de ti, a mãe dele é quinze anos mais nova do que a minha e tem uma saúde de ferro e uma mulher não pode passar a vida inteira à espera que um fulano se decida, passar a maior parte das noites sem companhia, a ver vídeos na televisão, uma mulher precisa de companhia, de conversar, de um homem para tomar conta e eu não sirvo para isso, Manuela, levo o serão a olhar para o relógio com receio de perder o barco, despeço-me à pressa com um beijo na testa, telefono de fugida do emprego até que na semana passada me avisaste
-Preciso imenso de falar contigo
e eu entendi que me querias explicar que o Carlos estava disposto a dar-te o que eu nunca te dei, que não ligava com o teu feitio ficares sozinha, ires sozinha à praia, ires sozinha ao cinema, aguentar as anginas sem ninguém ao pé, oiço a minha voz
-O coelho está óptimo
farto de saber que não era isso que tu querias ouvir, farto de saber que o que querias ouvir era
-Eu caso-me contigo esquece o Carlos
mas não consigo, não sou capaz, gosto de ti e no entanto não me vejo, percebes, a viver contigo, o amor é uma coisa tão esquisita Manuela, garanto-te que tenho amor por ti, garanto-te que adorava pegar-te na mão
-Eu caso-me contigo esquece o Carlos
e as palavras não saem, tu à espera e as palavras não saem, tu a garantires-me em silêncio
-Se ficares quero lá saber do Carlos
e tudo o que sou capaz, que idiotice, é elogiar-te o coelho em lugar de elogiar-te a ti, te pegar na mão, te jurar
-Amo-te
porque te amo, porque não conheço quem faça macramé tão bem, quem tenha a casa tão limpa, a roupa tão asseada, nem um grão de pó na mobília, não conheço quem me trate como tu me tratas, acho que o Carlos tem uma sorte danada, acho que vou sentir a tua falta a doer-me cá dentro e todavia não sou tão parvo que vá chorar à tua frente, falo contigo como se não fosse nada, enfio o guardanapo na argola, levanto-me, abotoo o casaco e tu
-Preciso imenso de falar contigo
eu, que não sou tão parvo que vá chorar à tua frente, a agarrar a maçaneta da porta
-Amanhã amanhã
sabendo perfeitamente que não vou vir amanhã, que não vou vir nunca mais, que se viesse encontrava a mesa posta e o Carlos sentado no meu lugar a comer o meu arroz de coelho e a propor-te
-Vamos tratar da papelada no registo
sabendo perfeitamente que daqui a dois ou três meses vou espreitar ao jardim da Gulbenkian, e lá estarão vocês e os padrinho a tirarem fotografias junto à estátua, junto ao lago, e pode ser que me vejas, Manuela, que me distingas no meio dos arbustos, pode ser que olhes para mim como agora olhas
-Preciso imenso de falar contigo
só que não dirás nada porque é tarde, não podes passar o resto da vida a ires sozinha à praia, ao cinema, a aguentar as anginas sem ninguém ao pé, talvez me acenes, talvez eu te acene e apanhe logo o autocarro porque a velhota necessita de mim, com a idade deixa a porta aberta e esquece-se do gás, ao entrar a minha mãe, preocupada
-Vens pálido Jorginho
eu muito depressa
-Não é nada mãe
e sento-me no quintal das traseiras até ser noite e sem chorar, claro, não sou tão parvo que comece a chorar, que mariquice chorar, eu não choro, não penses que choro, não choro, sento-me no quintal das traseiras a dar milho às galinhas, a dar milho às galinhas, a dar milho às galinhas.

quinta-feira, outubro 14, 2004

O ilustre desconhecido

Foto do New York Times Posted by Hello


Atentem na legenda, que passo a traduzir: «Descrição: o Presidente George Bush, à esquerda, cumprimenta o Presidente da Guatemala Oscar Berger, ao centro, e um homem desconhecido num almoço para líderes mundiais no dia da inauguração da 59ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, 21 de Setembro de 2004, nas Nações Unidas em Nova Iorque.»
Acho que não preciso de dizer mais nada.

segunda-feira, outubro 11, 2004

The Great Gatsby, F. Scott Fitzgerald

The Great Gatsby, F. Scott Fitzgerald Posted by Hello


Este é um livro que dispensa qualquer tipo de apresentação ou recomendação. Ainda assim, decidi mencioná-lo aqui no blog, como um dos livros vencedores do prémio para a categoria «livro que li este ano mas que já devia ter lido há mais tempo». É, sem dúvida, uma grande obra.
The Great Gastby é a obra maior do escritor F. Scott Fitzgerald, escritor que se insere no círculo da 'Lost Generation' (no qual se inserem também Hemingway, Dos Passos e Faulkner).
Em termos de obras ficcionais, considero que The Great Gatsby é a obra que melhor retrata o ambiente dos 'loucos anos 20' americanos, abordando de forma profunda e consistente o mito do self-made man e do american dream. É um olhar devastador para a 'Jazz Era', revelando a decadência por detrás de todo o seu aparente esplendor.
A história, centrada na personagem de Jay Gatsby mas retratando a vida da sociedade americana nos anos 20, é excelente e a narrativa de Fitzgerald é fenomenal. A sua forma de escrever está repleta de pormenores de classe, que muitas vezes escapam a leitores menos atentos. A leitura deste livro é um desafio. Um desafio que lanço a todos aqueles que partilhem comigo o gosto pela leitura.

Pessoal e transmissível - 1

«Se este espaço é o meu blog, porque não hei-de usá-lo como me apetecer, mesmo que me apeteçam coisas ridículas, do género escrever o que se passa nos meus dias?» - Foi este pensamente parvo que me levou a escrever este post, o primeiro de uma série de posts secantes sobre o que se passa nos meus dias. Não tenho diário e já que tenho blog, escuso de estar a deitar árvores abaixo e a gastar papel.
Podem parar de ler aqui o post, se não quiserem levar uma daquelas secas tipo 'querido diário', mas sem segredos porcos para desvendar.

Hoje comecei as aulas. Só tive uma e foi a minha primeira aula de Alemão. Este ano conto aprender uma língua nova e decidi-me então pela língua do senhor Hitler. (é triste mas é verdade: falo em Alemanha e lembro-me do Hitler antes de qualquer outra pessoa)
Até agora tem sido um dia produtivo: já sei fazer algumas perguntas básicas do tipo como te chamas, onde moras e que línguas falas. É pouco mas conto aprender muito mais.

Aconteceu-me uma coisa curiosa, uma daquelas surpresas que a vida nos prega. Quando andava na escola primária, tinha uma colega que entretanto, por circunstâncias da vida, nunca mais vi. Desde a 4ª classe, ou seja, desde os meus 9 anos, que não a via (e, para ser franca, não pensava sequer nela). Hoje encontrei-a. Está na minha turma de Alemão e, 11 anos depois, voltámos a ser colegas. Riam-se à vontade mas isto deixou-me mesmo contente. Encontrá-la faz-me recordar a melhor época da minha vida, quando vivia com a minha avó e não tinha nenhum problema. Este acontecimento faz-me pensar que a vida é mesmo imprevísivel e que nunca devemos tomar nada como definitivamente perdido, do mesmo modo que não devemos tomar nada como garantido a cem por cento. Ainda ontem voltei a falar, ainda que apenas por msn, com um colega da escola secundária (olá João!!) que já não vejo desde essa altura (e acho que falei mais com ele ontem do que nos três anos em que fomos da mesma turma). Duas pessoas que julguei irremediavelmente perdidas voltaram a entrar na minha vida. Acho que é motivo mais do que suficiente para hoje me sentir muito feliz.

Desculpem lá a lamechice mas apeteceu-me.

domingo, outubro 10, 2004

As legendas para os surdos

Não sei se já fizeram a experiência de, ao verem um qualquer programa de televisão, usarem aquele número do teletexto (acho que é o 888) e verem o programa com as legendas para os deficientes auditivos. Se nunca experimentarem, façam-no e esforcem-se por imaginar que são surdos desde que nasceram. Depois vejam lá se não ficam com raiva ao lerem legendas do género 'som de música romântica' ou 'som de música alegre'. Como raio é que uma pessoa que nunca ouviu uma única nota musical na vida vai saber o que é música romântica ou alegre?
Já até aconteceu ver legendas em que diziam qual o nome da música e da banda que estava a tocar a banda sonora naquele momento. É para quê? Para o surdo ir comprar o CD ou sacar a música da net?
Se fosse surda, acho que ficava ofendida. Como sou só parva, divirto-me com estas coisas... =)

sexta-feira, outubro 08, 2004

Há qualquer coisa que não bate certo...

Devo ter lido mal porque li que o Santana, PM (e acabado de indigitar), declara 'guerra total' a Sampaio, PR (e com dois mandatos), se este resolver dissolver a Assembleia da República em virtude do caso Marcelo Rebelo de Sousa.
Então esta é a parte em que, para além da censura, surge uma nova característica dos governos fascistas, mal dirigidos, elitistas, corruptos e insustentáveis: é a parte em que tudo se confude, ninguém obedece a ninguém, ninguém distingue os que devem ser respeitados dos que podem ser contrariados.
Alguém deveria lembrar ao senhor ex-presidente da CML que este só ocupa agora o cargo de Primeiro-ministro porque o Presidente da República o pôs lá (porque senão ninguém votava nele).
Além de não se cuspir no prato em que se come, devemos ser humildes, senhor Santana, e admitir que fazemos coisas erradas. Tudo bem que o erro nem foi seu, neste caso, mas foi do executivo que o senhor escolheu para dirigir e dirigir esse executivo implica ter tomates para acarretar as consequências dos actos mal-pensados desse executivo.
Para além disso, há que manter presente na memória aquilo que se aprende na escola primária: os símbolos da pátria são três (e são para ser respeitados): a bandeira, o hino e o senhor Presidente. O Presidente da República respeita-se SEMPRE, não se abrindo sequer excepções para oleosos com medo de cair da cadeira.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Elfriede Jelinek, Prémio Nobel de Literatura 2004. Posted by Hello


Confesso que nunca antes tinha ouvido falar no nome desta escritora austríaca de 58 anos. Sei agora que é novelista e dramaturga e que ultrapassou Milan Kundera e Philip Roth na corrida para o Nobel deste ano. Acho que é um motivo mais do que suficiente para me aventurar na sua obra.

O tempo voltou para trás

Estou triste. Há dias, como o de hoje, em que me apetece emigrar.
Este país transformou-se numa autêntica anedota! Este governo não existe! Uns meninos da mamã que fazem o que lhes apetece... passeiam-se em grandes carros, fazem grandes viagens, tudo com o nosso dinheiro. Dizem-nos para apertar o cinto, que estamos em crise e depois dão tolerância de ponto à função pública.
Sem qualquer motivo que não seja a opinião pessoal do Paulo Portas, impedem o 'Borndiep' de atracar. Agora, para não deixar dúvidas de que regressámos mesmo ao tempo do fascismo, recuperam a censura, silenciando um comentador político (que, para piorar, é do partido do governo, o que prova que nem internamente eles se entendem).
Enquanto cidadã, estou irritada e desiludida. Mas, se fosse o Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, acho que estava neste momento a saborear o gosto da 'missão cumprida'. «Toquei-lhes na ferida», deve Marcelo pensar.
Um governo que não aguenta as críticas de um cidadão é um governo que não consegue ser o sustentáculo da nação, que não pode conduzir os destinos de um país.
A política voltou a intervir na comunicação social, como na época salazarista. Voltámos a uma mistura de poderes. Este governo (que em 3 meses de suposta crise, efectuou mil contratações), prova assim a sua fragilidade, com esta necessidade de intervenção desesperada. Estamos quase no ponto de o cidadão comum voltar a ser perseguido. Ainda Portas se vai lembrar de criar uma polícia política...
Ou estes palhaços se demitem ou estes vão ser os dois anos mais longos da minha vida.
Entre esta situação e um golpe de Estado, não sei o que afectaria mais o país...

terça-feira, outubro 05, 2004

'The Village' (sem pretensões a crítica que hoje não estou com paciência)

Fui ontem ver 'The Village', o último filme de M. Night Shyamalan, realizador de filmes como o 'Sixth Sense'.
Como disse no título, hoje não estou num bom dia para tentar fazer uma crítica decente mas, ainda assim, resolvi deixar aqui este texto, como chamada de atenção para que este filme não passe despercebido a ninguém.
Não é o filme da minha vida mas é, sem dúvida, um excelente filme. Tem um argumento perfeito e uma realização que não lhe fica atrás. O único senão, na minha humilde opinião, é o ritmo do filme que se torna por vezes parado e aborrecido. O ambiente 'à la monte dos vendavais' pode também não agradar a muitos mas é inegável que está muito bem criado. De facto, a contrução (e posterior desconstrução) de um universo sombrio de século XIX é muito bem conseguida.
Destaco o desempenho do já consagrado Adrien Brody e a presença de Joaquin Phoenix, ambos no seu melhor.
Com aquele que é, para mim, um dos melhores argumentos dos últimos tempos (embora o 'the eternal sunshine of the spotless mind' continue a ocupar, para mim, o lugar de destaque), 'The Village' é um filme que recomendo a toda a gente. Este filme é a prova de que ainda se fazem excelentes obras de arte na arte das massas e que, mesmo sendo do povo, o cinema consegue ter a nobreza das demais artes.

segunda-feira, outubro 04, 2004

'Le baiser de l'Hotel de Ville' - Robert Doisneau Posted by Hello


Robert Doisneau foi um dos mais importantes fotógrafos de todos os tempos, contando também com um influentíssimo trabalho como repórter fotográfico. Esta é talvez umas das suas fotos mais polémicas. Na sua arte de captar um momento fugaz, o instante preciso, Doisneau provou ser capaz, não apenas de manipular a objectiva com mestria, mas também de manipular o olhar alheio.
Ao olharmos esta fotografia, pensarmos estar a presenciar o momento único da despedida de dois apaixonados (e muito podemos divagar sobre este romance e sobre o que os seus olhares deixam transparecer). Mas... estaremos mesmo a contemplar o Amor, através da objectiva de Doisneau ou estamos a contemplar a sua arte no engano, ao deixar-nos acreditar que retrata o Amor?

Muitos anos após esta fotografia ter sido tirada, os modelos que para ela pousaram revelaram que esta tinha sido uma pose programada e não a captação de um instante fugaz. Assim, todo o reconhecimento que Doisneau conseguiu através desta simples fotografia, todos os prémios que recebeu foram atribuídos sem o verdadeiro conhecimento do tipo de arte que tínhamos perante nós: a arte do engano, da manipulação. Uma arte cada vez mais fácil de conceber...

sexta-feira, outubro 01, 2004

Turismo Espacial


A superfície de Vénus Posted by Hello

A primeira empresa privada de vôos espaciais já está em funcionamento. Por agora, só os mais afortunados podem aventurar-se para lá dos limites da Terra. Mas será assim tão descabido pensar que, num futuro ainda que longínquo, o turismo espacial será uma realidade acessível a muitos?

Revisitar Kant



2004 é o ano do bicentenário da morte de Immanuel Kant. Este filósofo, profundamente imbuído dos ideais do Iluminismo, deixou um vasto e precioso legado de textos e reflexões. Os seus textos são sujeitos a inúmeros estudos académicos mas as suas teorias são, de certo modo, esquecidas pelo homem comum.
Resolvi recomendar este livro, A Paz Perpétua e Outros Opúsculos, e propôr a meditação acerca dos ideais defendidos por Kant, nesta obra. Dividida em 7 valiosíssimas partes, reflecte acerca do Iluminismo, da Liberdade, da Razão, da Paz e do suposto direito de mentir, entre outros assuntos de igual importância. Posted by Hello