Acho que há vários anos que uma cerimónia dos Óscares não dava tanto que falar (e, a meu ver, por bons motivos). Passámos das habituais cerimónias sem grandes surpresas para uma noite surpreendente em todos os aspectos: na apresentação (hilariante e corrosiva) de Jon Stewart, nos
sketches que intervalaram a cerimónia e, claro, nos prémios.
A surpresa da noite foi, é certo, a atribuição da estatueta de melhor filme a
Crash, estando toda a gente (e eu própria) a apostar na vitória de
Brokeback Mountain. Se por um lado continuo a achar que o filme de Ang Lee merecia esta distinção (e, sinceramente, acho que a decisão da Academia não foi naaaadaaaa inocente... o que é pena), não deixo de ficar satisfeita com o prémio (
Crash foi um daqueles filmes que, confesso, tal como o
Brokeback, me ficou na cabeça muito tempo e, mais do que isso, tinha sérias qualidades).
Se fico triste, é apenas por achar que Hollywood deixou escapar a hipótese de quebrar um tabu e, tão depressa, não sei se terá tão boa oportunidade de fazê-lo.
Quero com isto dizer que não sei se a vitória de
Crash se deveu inteiramente ao seu próprio mérito ou também, em boa parte, ao facto de a Academia não ter sido capaz de distinguir uma história de amor homossexual. E é por isso que lamento, porque
Crash não deixa de merecer a distinção mas
Brokeback Mountain sem dúvida que era o mais justo dos vencedores.
Se pensarmos bem no todo que foi esta 78ª cerimónia dos Óscares, o prémio a
Crash até faz bastante sentido no conjunto total: um conjunto onde se homenageou o rebelde Robert Altman, onde as conotações políticas do
host fizeram rir a plateia e onde a música vencedora se intitula "It's hard out there for a pimp". Assim faz sentido!
Fiquei satisfeita com a generalidade dos prémios entregues (é claro que Burton merece sempre qualquer prémio mas pronto...) e espero que a 79ª cerimónia continue na linha daquela a que ontem se assistiu.