"Good night and good luck" (2005), George Clooney
O governo de McCarthy dá um grande filme. E um filme que fale do governo de McCarthy e do confronto desse seu poder com o comummente conhecido como "quarto poder" resulta, claro, numa boa narrativa. É essa a linha que Good night and good luck percorre, a linha que divide os poderes em confronto. O confronto não existe apenas entre os poderes mas dentro dos próprios, com base nas hierarquias neles estabelecidas (o jornalista, o editor, o patrão...).
O contexto é mais do que conhecido, de todos os livros de história, de tantas obras de ficção e não-ficção. O recurso técnico é o do preto e branco para o retrato da década de 50.
Poderiam escrever-se centenas, milhares de linhas sobre a função do cigarro no filme e sobre a sequência publicitária dos cigarros "Kent". Pode falar-se do teleponto, da sua importância como sinal de premeditação, de ausência de espontaneidade e, no limite, de total artificialidade. Podem falar-se de muitas coisas e é sempre um bom sinal quando isso acontece.
Edward R. Murrow era o homem que se despedia sempre dos espectadores da mesma forma (good night and good luck, claro) e que, com Fred Friendly, expôs os "podres" do governo do senador McCarthy. O filme orbita, portanto, à sua volta. Mas não se esgota nessa rotação, levantando uma série de questões importantíssimas e, apesar de um tempo narrativo de há meio século atrás, bastante actuais. Aliás, quem esteja minimamente a par da situação actual portuguesa, nao consegue deixar de ler a palavra "envelope" nas legendas e associá-la imediatamente aos acontecimentos mediáticos mais recentes do nosso país. São os desafios que, de tempos a tempos, o jornalismo coloca à sociedade, no caminho para a sua afirmação, já tão sólida, como o quarto poder.
Clooney recorreu às imagens de arquivo para a construção da personagem de McCarthy (as himself, portanto) e o resultado do filme é uma bela recriação da década de 50, uma época de explosão mediática, a par com o terror do comunismo em que os EUA estavam mergulhados.
O filme tem 6 nomeações para os Oscares (amanhã saberemos quantos (/se) recebe) e, mesmo que não se convertam em estatuetas, há destaques que merecem ser feitos: a realização de Clooney e (estes não foram mesmo nomeados) as interpretações de Robert Downey Jr e David Strathairn.
Uma obra-prima? De certeza que não. Um excelente filme? Também não diria. A ver? Certamente.
1 Comentários:
Não é uma obra prima...mas é um bom filme sobre o papel que os media realmente deviam ter. Também já o analisei no meu blog.
Bjs
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