terça-feira, dezembro 21, 2004

Obrigada, Pedro

Não quero que isto se torne um hábito, mas como fiz isto à Margarida, não posso não fazer ao Pedro.
Obrigada também pela prenda de Natal antecipada: o livro Cultura - Tudo o que é preciso saber, de Dietrich Schwanitz, editado pela Dom Quixote.
Acho que, pelo título, já calculam do que se trata. É um livro que, não aprofundando nenhum assunto em particular, fala um pouco de (quase) tudo.
Para Adorno, este livro seria mais um típico exemplo de semicultura. Para mim, é um livro extremamente interessante, funcionando como uma ponte para o aprofundamento de diversos saberes.
Pelo pouco que tive tempo de ler, acho que este livro ainda vai resultar nalguns posts aqui em Port Moresby...

domingo, dezembro 19, 2004

A Língua portuguesa

Condição (que já foi) “sine qua non”

O verbo haver conjugado no plural («Poderão haver alterações na Lei das Rendas»), vírgulas entre o sujeito e o predicado («As notícias da Antena 1, andam nos ouvidos de toda a gente»), erros de ortografia primários (retratar em vez de retractar, a moral trocada sistematicamente pelo moral, vêm em vez de vêem), a regência preposicional dos verbais torpedeada («Nove vilas emergem para a categoria de cidade»), acentuação negligente (“bébé”, «...Portas distanciar-se-à»), desrespeito permanente pelas maiúsculas e minúsculas («estado de direito», «sentido de estado»). Sinais alarmantes de como anda o zelo pela Língua Portuguesa nos ”media”...portugueses.

O desinvestimento dos jornais portugueses em bons serviços de revisão e de copidesques - nos casos onde o cuidado com o que se publica em letra de imprensa roçara níveis de excelência, como houve tempos no “Expresso” e no “Público” - tem trazido à tona erros calamitosos nada abonatórios para os jornais e os jornalistas em geral. Com tal evidência que o assunto foi mesmo tema tratado há quinze dias na coluna do Provedor do Leitor do “Público”.

São erros a mais (e nem vale a pena incluir aqui o que se lê naqueles rodapés das televisões!...) que só vêm chamar a atenção desse défice estrutural na formação das novas gerações de jornalistas. Na Internet, corre regularmente uma lista de barbaridades alegadamente cometidas por jornalistas tanto da escrita como do audiovisual. Independentemente da duvidosa autenticidade de muitos desses disparates - há lá gente referida que, por conhecimento directo, garanto que nunca escreveriam o que lhes é atribuído -, a verdade é que a lista, só por si, é reveladora da apreciação de quem nos lê, ouve e vê.

A propósito: a competência na Língua Portuguesa já não é condição “sine qua non” para quem vem para o jornalismo?...


in site do Clube de Jornalistas

Obrigada, Margarida

pela prenda de Natal antecipada: Jane Eyre com as ilustrações da genial Paula Rêgo, uma edição da Cavalo de Ferro em associação com a Enitharmon Editors de Londres.

O livro parece lindíssimo e vou já começar a desvendá-lo.

terça-feira, dezembro 14, 2004

O que o público quer

Assisti ontem ao programa da RTP, "Prós e Contras", dedicado ao humor em Portugal.
Falou-se, entre muitos outros aspectos, sobre o tipo de programas de humor dos canais generalistas (o programa da anedota fácil e do riso imediato).
A certa altura, um dos intervenientes disse algo que eu considero muito acertado e que me parece não ser a opinião de muitos pessimistas com quem falo: o público gosta daquilo que lhe dão. Se lhe derem cada vez programas melhores, o público cada vez gosta de coisas melhores.
É um facto. Um facto que contraria uma certa perspectiva conformista vigente, segundo a qual não há grande coisa a fazer em termos da cultura das massas. Segue-se a via do facilitismo sem pestanejar, com a certeza de só dessa forma "agarrar" o espectador. Cola-se no espectador médio um rótulo de burro incapaz de compreender mais do que uma anedotazinha brejeira e esquece-se de que os gostos se educam e as mentalidades não são estáticas. Nesta "aldeia global", cabe precisamente aos media o papel de as transformar, quer queiramos quer não.
E os media não podem nem devem negligenciar o seu papel formador, seguindo uma via escapista de entretenimento pobre.
Se calhar estou a ser demasiado optimista, mas acredito sinceramente que o público português vê "Os Malucos do Riso" e a "Quinta das Celebridades" porque é o que lá está, mas se lá puserem programas com verdadeiro interesse, o público também o vê, com o mesmo contentamento.
Não quero com isto dizer que entendo o público como uma entidade passiva, a quem podemos dar toda a palha que a digerem como se fossem verduras. O público escolhe, o público reflecte.
Mas o poder dos media é inegável e a sua influência na educação das mentalidades e na condução das culturas é um dado adquirido. É a eles que cabe a tarefa inicial no tão desejado processo de mudança das mentalidades.
As pessoas afirmam que não lêem (ou lêem pouco) por falta de tempo. É claro que passam horas demais a ver televisão e aí não se queixam de falta de tempo mas é preciso compreender que a televisão apoderou-se por completo da vida das pessoas. Acredito, portanto, que se os canais de televisão substituissem os programas que preenchem o seu prime-time por programas de divulgação científica e cultural, o público veria na mesma esses programas. E dava-se assim um passo na mudança das mentalidades. No entanto, as lógicas de mercado e as pressões das audiências continuam a ser soberanas...

domingo, dezembro 12, 2004

Não podemos exigir das crianças algo a que lhes negamos acesso

Faço agora uso deste meu cantinho em Port Moresby para denunciar uma situação que é, a meu ver, extremamente grave.
Um dos meus primos está agora a aprender a ler e a escrever numa escola primária pública.
Esta é uma fase crucial da sua vida, talvez o ponto mais importante do seu percurso na aprendizagem. Vai agora aprender as bases de todo o seu conhecimento. Vai aprender a fazer contas, a ler e a escrever.
O problema é o seguinte: a senhora que anda a ensinar o meu primo a ler e a escrever é brasileira.
A sua nacionalidade seria pouco importante se a senhora ensinasse em português de Portugal. A questão é que ela não o faz. O meu primo está a aprender a ler e a escrever em português do Brasil (a ler com o sotaque brasileiro e a escrever com todas as diferenças ortográficas que sabemos que existem entre as duas variantes). Todas as fichas que o meu primo traz para trabalho de casa são em português do Brasil.
A minha pergunta é esta: com tantos professores portugueses sem emprego, porque é que o meu primo e os seus colegas estão nesta situação? Penso que é óbvio que esta fase da aprendizagem é fundamental e que os erros agora cometidos são irremediáveis.
Não questiono a competência didáctica e pedagógica da professora em causa, mas acredito que o seu lugar não é numa escola primária em Portugal, sobretudo a ensinar a ler e escrever.
Acho que não podemos exigir que as crianças saibam expressar-se me bom português (de Portugal) se não lhes damos as condições para que isso aconteça.

Pesticidas? Isso é capaz de fazer mal

A inteligência humana fascina-me. De verdade.
Há cerca de três semanas foi noticiado que tinha sido posto em circulação um lote de tabaco das marcas SG Filtro e SG Ventil que continha pesticida. Ontem, o Expresso avançou que mais um lote desse tabaco se encontra em circulação. Dando seguimento a esta notícia, a SIC foi para a rua inquirir alguns fumadores destas marcas sobre possíveis mudanças dos seus hábitos tabágicos devido a esta notícia. Uns disseram que mudaram de tabaco, outros disseram que reduziram e ainda houve outros cujos hábitos se mantiveram inalterados. Mas o que me despertou realmente a atenção foi um senhor de idade que, receando os perigos que os pesticidas no tabaco poderiam trazar à sua saúde, disse: "Deixei de fumar.Deixei."
Ora bem... já há vários anos, julgo eu, que se provou que o tabaco provoca cancro (pulmões, laringe e boca), altera a pressão arterial, é responsável por doenças coronárias, provoca impotência, diminui a fertilidade, envelhece a pele e também é responsável pela morte de neurónios entre muitos outros malefícios. No entanto, este Einstein deixa de fumar porque o tabaco tem pesticida. Parece-me bem. Afinal de contas, isso dos pesticidas ainda é capaz de fazer mal a um gajo.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Finalmente de volta

A netcabo (desgraçada!!) manteve-me afastada da realidade virtual durante quase uma semana. Os danos morais são incalculáveis e é a custo que tento recuperar o tempo perdido, lendo avidamente os últimos posts de vários blogs da minha preferência (agora que penso nisso, é interessante que ler os blogs se esteja a tornar um hábito diário semelhante a ler/ver o jornal), bem como consultar uma série de outros sites que jamais dispenso.

É com satisfação que constato que a blogosfera se mantém viva e efervescente. Ainda sem tempo para os meus comentários nos blogs (espera lá, Miguel), deixo aqui apenas uma referência a um artigo muito interessante que li num blog que visito regularmente, o Indústrias Culturais, sobre a quinta das celebridades. São análises deste tipo que eu gosto de ler e gostava de fazer. Quem sabe com mais uns anos de labor intelectual...

Vou agora continuar a minha ronda pelos sites. Espero voltar em breve a este meu cantinho exótico em Port Moresby, para escrever coisas que valham a pena ser escritas e que valham a pena ser lidas.

Miguel e restantes futuros sociólogos, leiam o tal artigo. Vale a pena.

Até breve!