quinta-feira, novembro 04, 2004

A Solidão morou em Paris (e não pagava a renda)

Os pormenores desta história são um pouco incertos e vagos porque a pessoa que ma contou não entrou em detalhes. Ainda assim, resolvi contá-la também, lamentando eventuais falhas.

Foi em Agosto que o mistério foi desvendado.
Um senhor que morava em Paris tinha, havia já cinco anos, deixado de pagar as suas contas. Ao longo desses cinco anos, as respectivas empresas foram-se encarregando de, por falta de pagamento, cortar os serviços que dispensavam ao senhor, como água, electricidade ou telefone.
Como o senhor também parecia recusar-se a pagar a renda da casa, o senhorio pô-lo em tribunal. Ao fim de cinco anos (porque não é só em Portugal que a justilça é lenta), foi emitida uma acção de despejo e um oficial de justiça foi entregá-la a casa do senhor (que nunca tinha comparecido a nenhuma audiência).
Como o senhor não atendia, viram-se obrigados a entrar em sua casa.
Foi lá que descobriram o seu cadáver, já em decomposição.
O médico legista concluiu, após analisar o cadáver, que aquele senhor não pertencia ao mundo dos vivos havia já CINCO ANOS.

Cinco anos... cortaram-lhe todos os bens essenciais, puseram-lhe processos em tribunal, fizeram de tudo mas nem uma vez se preocuparam em tentar falar com ele, visitá-lo, saber as suas razões para não pagar as contas. Cinco anos. Cinco Natais, cinco Páscoas, cinco aniversários e nem um primo em décimo grau se dignou sequer a tentar saber notícias deste homem.
Este é, para mim, o cúmulo da solidão. A solidão é uma gigante metrópole onde ninguém se olha nos olhos e todos os contactos são feitos por intermediários. A solidão é um cadáver com cinco anos, trancado numa casa que já nem é sua.

5 Comentários:

Às quinta-feira, novembro 04, 2004 9:52:00 da tarde , Blogger Unknown disse...

Excelente post, excelente mesmo. A história é bem elucidativa e é um bom exemplo de solidão, que se pode manifestar de várias formas. Faz lembrar a cena do filme "Collateral", em que a personagem interpretada pelo Tom Cruise diz ao taxista (Jamie Foxx) que uma pessoa pode viajar morta no metro de Los Angeles durante horas sem que ninguém se aperceba. No modo de vida citadino vivemos rodeados de pessoas que não têm tempo para se importar com os outros. É um local que familiar e chama-se Indiferença.

 
Às sexta-feira, novembro 05, 2004 10:27:00 da tarde , Blogger Miguel Fino disse...

Que Cena! Bem não sei muito bem o que dizer, realmente é o máximo da solidão, não pode haver mais do que isto. São cinco anos, não são cinco dias. Só acho estranho ninguem da vizinhança ter dado por isso, alguém o homem deveria conhecer, mesmo aqueles encontros do quotidiano que seja o comprar pão ou o vazar o lixo. A sociedade dos homens é algo que merece muita reflexão...

 
Às quarta-feira, junho 22, 2005 9:18:00 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

O que realmente cheteia na solidão é a condicionante transcendental mesmo muito preversa de se enlouquecer desesperado por convivio. digo preversa porque muitas vezes dados certas situações a solidão é mesmo muito higienica.

 
Às segunda-feira, fevereiro 05, 2007 4:35:00 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

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Às segunda-feira, março 05, 2007 11:52:00 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

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