sábado, maio 21, 2005

Decidam-se

Parece que ali para os lados de França (ou da França, como dizem os emigrantes), rebentou uma grande polémica por causa da venda de produtos culturais com os jornais, algo que em Portugal (e em tantos outros países) também se passa.
Assim não percebo: querem ou não que as pessoas consumam bens culturais? É que é um facto que os jornais vendem mais quando trazem certos livros ou DVDs (ai as dificuldades em certos dias para encontrar o Público aqui na minha terrinha...) e, se as pessoas consomem mais cultura por causa disso, isso não será uma enorme vantagem? A mim parece-me que sim.
É claro que as empresas têm que se preocupar com os seus lucros, isso é óbvio. Mas também me parece que a distribuição desses produtos não abala nenhuma das indústrias (seja a livreira, a discográfica ou a cinematográfica).
Ao que parece, a polémica nem é por isso: é que, de acordo com o Sindicato Nacional de Edição francês, "tais operações contribuem para a desvalorização do livro". O quê? Então voltámos aquela postura elitista de cultura em que se um livro é lido por muitos perde o seu valor enquanto bem cultural? Espero bem que não porque isto era um retrocesso sem tamanho.

Felizmente, e de acordo com a APEL, em Portugal a situação não está a gerar qualquer problema. A meu ver, só tem vantagens uma vez que estimula o gosto pelas artes (seja pelos livros, pela música ou pelos filmes). E isso não afasta o público, muito pelo contrário: aproxima-o dos objectos culturais, quebrando algumas das possíveis barreiras existentes, como o preço dos livros ou a dificuldade em encontrar alguns deles.
A meu ver esta é uma polémica sem sentido. Mascaram as suas desculpas, dizendo que pensam no bem da cultura, quando na verdade só se regem por interesses capitalistas (que nem me parece que estejam assim tão em risco).
Viva a colecção Mil Folhas, a série Y, as enciclopédias com os jornais (antes essas que nenhumas), os CDs de música, a colecção de filmes portugueses do Correio da Manhã (que tanto jeito me deu para o trabalho de Cinema), os CDs, os talheres, os selos e todas essas coisas que levam as pessoas a comprar jornais, a lerem livros, a ouvirem música, a verem filmes, a cultivarem-se para além das doses diárias de televisão que engolem passivamente.