A malta fixe - o individualismo solúvel agora em saquetas individuais
A sociedade vive um problema grave de confusão e de falta de identificação. Assusta-me perceber que, na nova geração, todos são iguais. É assustador! É a clonagem na sua face social e não científica. Todos se vestem do mesmo modo, andam do mesmo modo, usam os mesmos vocábulos, frequentam os mesmos lugares, adoram os mesmos ídolos... tudo de acordo com a etiqueta do 'fixe'.O fenómeno não é apenas nacional, mas global. Penso que chegámos a um ponto de excessiva identificação com a sociedade, ao ponto de o indíviduo se dissolver na mesma, perdendo os seus traços mais singulares.
Houve uma época em que ser 'fixe' (não nestes termos, mas com o mesmo significado) era ter algo de único, que distinguisse esse indivíduo da restante sociedade. Fulano era 'fixe' porque era diferente. Ser 'outsider' era ser 'fixe' porque ser 'outsider' era ser diferente. Mas a situação chegou a um ponto em que todos são 'outsiders' para serem 'fixes' e, agora, ser 'outsider' ´já não tem nada de diferente.
É uma geração por vezes inconformada, é verdade. Mas é também uma geração desumanizada. Os amigos já não conversam; os amigos agora 'teclam'. Quando um amigo diz algo engraçado, o outro não solta uma gargalhada mas sim um cibernético 'lol'. Os amigos não dizem que gostam um do outro; fazem (L) no msn e surge um coração. Fica tudo dito.
É de lamentar que o ser humano já não se esforce por manter a sua individualidade, já não queira marcar a diferença. Conformado, o ser humano entregou-se a uma sociedade sufocante que acabou por engoli-lo e misturá-lo no bolo alimentar onde estão todos os outros.
Os miúdos são todos Pedros, Tiagos ou Joões; as miúdas são todas Anas, Catarinas e Joanas. Vêem todos os mesmos filmes, ouvem todos a mesma música e lêem todos os mesmos livros (quando lêem). Prenderam-se todos a uma cultura mainstream e aceitam-na com uma passividade assustadora.
Há excepções, felizmente. Mas falo agora da maioria, a maioria que assusta. A maioria que vive cada vez mais para as aparências e para as marcas, rendida a um mundo cada vez mais consumista.
O puto até pode ser um estúpido com o QI abaixo de zero, mas se os pais lhe compram o último modelo da Nike e se no leitor de mp3 só tem Limp Bizkit e afins... o puto é um fixe!
Fica aqui a memória saudosa da época em que sobressaías pela diferença, em que ser único não era ser 'betinho'. Fica aqui a esperança de que, num destes dias, a humanidade acorde a perceba que atravessa uma fase crucial e que deve soltar as amarras, deixar as marcas e fazer a sua própria marca. Deixar de ser o gajo para ser o indivíduo...
publicada por vera @ 1:43 da tarde
4 Comentários:
Mais uma bomba que sai dessa cabeça. Está excelente este texto, os meus parabéns! A verdade é que cada geração tende a criticar a geração anterior, mas não é disto que se trata aqui. Sabes que aquilo que dizes é a verdade nua e crua e que é mesmo uma geração de modas, de meninos mimados que dizem "não quero" ou o não faço". Meninos que ainda nem graudos são e já pensam em ser adultos, pintam-se, bebem, falam, e têm 12, sim leste bem, 12 anos. As coisas não podem ser assim, o futuro não pode ser assim... pode ser que com textos como este, exista ainda um resto de esperança. Divulga e acredita nas tuas ideias. Que todos sejam pelo menos como tu, se melhor não for possível...porque o mundo evolui a cada dia. Força!
Vera, apontas para uma questão interessante, que é a da falta de referências da qual esta geração de "putos" padece. Vivemos na era da imagem, num mundo onde somos constantemente bombardeados por imagens, por anúncios publicitários a apelar ao consumo, onde os putos pouco lúcidos são convidados a assumir um papel passivo. Alguns falam na geração MTV, ou Coca-cola, o que significa que estamos perante uma dominação simbólica que se manifesta na cultura mainstream. Os putos entregam-se ao facilitismo, consomem o que estiver em voga, na moda, ou seja, não procuram formas de cultura, expressividades alternativas, mas sim símbolos do "agora",, do que está a dar. Chamas também a atenção, e muito bem, para a dificuldade que actualmente existe entre os jovens, de procurar uma identidade própria, diferente. É difícil não sermos rotulados, inseridos em categorias, simplesmente pela forma como nos vestimos. O vestuário é um símbolo cultural, característico de uma categoria social. Temos o exemplo dos "rastafaris". Eu próprio, quando se trata de escolher a indumentária para cada dia, procuro vestir algo invulgar, pouco visto, mas é difícil. A globalização cultural está aí, sob as mais variadas formas. Belo post. Em frente.
Post Scriptum: Os Limp Bizkit são bons músicos, simplesmente decidiram quase arruinar a sua carreira com o lançamento do seu terceiro álbum, o decadente "Chocolate Starfish And The Hot Dog Flavoured Water". Porquê? Dinheiro, fama, os putos a seus pés. Apesar de tudo quem cresceu a ouvir Limp Bizkit, como eu, sabe que os Limp Bizkit que lançaram este álbum de merda, não são aqueles LB que em 1997 emergiram com o poderoso "Tree Dollar Bill Yall". Felizmente parecem ter reencontrado o rumo certo com o último álbum, desta vez mais trabalhado, mais agressivo e simultaneamente mais melódico. Curiosamente, não teve metade do sucesso do seu antecessor. Perguntam vocês, porque será? (Eu até podia ir para crítico de música, ou não? Não?)
Andreia que grande comentário!!É fácil ver as coisas sacudindo a culpa para cima de todos menos de nós próprios e no fundo também nós temos a nossa grande culpa. A Sociedade não existe, o que existe são as pessoas..são elas que fazem a sociedade. Nós criamos a geração do amanhã, há que assumir que provavelmente não o estamos a fazer como deveríamos. É por isto que fazemos estes comentários, estes textos, estas figuras que alguns apontam como inconsequentes...para tenatr mudar alguma coisa. Bom Comentário!!
Very cool design! Useful information. Go on! » » »
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