segunda-feira, setembro 27, 2004

Informados mas mal formados

A alternativa a uma depressão nervosa é deixar de andar informada. Parar, definitivamente, de ver/ ler/ ouvir jornais. O mal nem está só na notícia que divulgam (na maioria são só desgraças, porque o sangue humano é coisa que vende bem) mas sim no modo como as divulgam.
Como é que é possível que os jornalistas, veículos de informação e até formação de todo um povo, não tenham o conhecimento mínimo nem sequer da sua própria língua?!
Nem vou a casos concretos mas acho que nunca vi/ li/ ouvi um jornal inteiro sem erros dos mais graves. Em termos de televisão, permitam-me opinar, não há pior do que a TVI. É incrível como as pessoas vêem aquele jornal. Não ficamos informados correctamente sobre o que realmente interessa e, mesmo com aquelas notícias da treta, não conseguem usar um português decente. Os erros vão dos mais simples aos mais graves erros de conjugação verbal ("haviam"???), sintaxe, morfologia e até erros de regências e concordâncias.
No que se refere à imprensa escrita, os tablóides lideram a tabela dos piores. O mais grave desta situação toda é o facto de tanto a TVI como os jornais acima referidos serem os mais vistos e lidos pela população portuguesa. O que é que se passa nessas cabeças??
Para piorar a situação, somos o país da União Europeia que menos lê jornais! De acordo com a APCT (Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens), a média europeia situa-se nos 205 jornais por cada mil habitantes com mais de 15 anos (dados de 2001). Para citar alguns casos, na Finlândia, 444 em cada mil habitantes compra o jornal diariamente; na Áustria, 300 pessoas fazem o mesmo; no Reino Unido o número desce para 298 e na França para os 136. Mas até a Grécia lê mais jornais do que nós: 63 exemplares vendidos diariamente, por cada mil habitantes, contra os nossos míseros 50 exemplares.
É claro que há sempre aquele portuga optimista que diz que lê o jornal do amigo e assim já conta mais um ou que lê na internet. Não lhe tiro uma certa razão. Mas a verdade é que a situação continua a ser vergonhosa e escandalosa. Se é para lerem o "24 horas", leiam antes o tio patinhas que é mais educativo!
Mas enfim... já estou a afastar-me do assunto principal: a desgraça em que, pelo bem das sagradas audiências, se tranformaram alguns dos nossos meios de comunicação.
Não quero ensinar ninguém porque nem me sinto muito preparada para tal (mas que tanto eu como a maioria das pessoas com quem convivo percebe mais de português que os senhores jornalistas, não há dúvida nenhuma!). Mesmo assim, aproveito este espaço para explicar que:

- Diz-se abundar em e não abundar de;
- Diz-se aceder a e não aceder em;
- Diz-se apelar para e não apelar a;
- Diz-se chamar a atenção para e não chamar a atenção sobre;
- Diz-se desinteressar-se de e não desinteressar-se em;
- Diz-se discordar de e não discordar com;
- Diz-se desistir de e não desistir em;
- Diz-se embater em e não embater contra;
- Diz-se optar por e não optar em;
- Diz-se recusar-se a e não recusar-se em.

Por agora, fico por aqui. Não quero massacrar mais a cabeça dos que ainda têm paciência para ler isto.
Mas sei que voltarei a este assunto porque é das coisas que mais me entristece neste pequeno país: nem os portugueses falam português. Nem aqueles que nos devem informar são sequer bem formados.

2 Comentários:

Às segunda-feira, setembro 27, 2004 6:03:00 da tarde , Blogger Miguel Fino disse...

Muito bom! Assim podemos contar com os licenciados em comunicação social. Muito bom Vera. Tens toda a razão no que disseste, tens uns exemplos espectaculares e tens um texto crítico de grande nível, continua assim que assim vais longe. Grande post.

 
Às quarta-feira, setembro 29, 2004 12:29:00 da manhã , Blogger Unknown disse...

Adorei a crítica que fizeste ao telejornal da TVI e aos tablóides, que infelizmente continuam a ser os preferidos da maioria dos portugueses, sobretudo entre os de grau de escolaridade mais baixa. É o triunfo do sensacionalismo degenerescente sobre a lucidez intelectual. Bravo.

 

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