quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Trabalho de Análise de Imagem - INTRODUÇÃO

Seinfeld - Como do nada se passa a ter tudo

Os pequenos nadas do dia-a-dia são rapidamente esquecidos. No entanto, é desses pequenos nadas que se constrói um dia, uma sucessão de dias, uma vida.
Seinfeld
é, assumidamente, uma série sobre o “nada”. É uma série contemporânea, sem pretensões a obra clássica ou de referência, que acabou por marcar uma geração e toda a década de 90.
Seinfeld
pega nos pequenos nadas que todos esquecem e junta-os para formar alguma coisa.
De uma perspectiva lógica, o “nada” é uma impossibilidade matemática. É também nessa perspectiva que o “nada” se aproxima do infinito, do “tudo”.
Tudo é sobre alguma coisa, quer falemos de um livro, de uma música, ou de uma série de TV. Não que Seinfeld não tenha um tema; o seu tema é “nada” (o que muito diferente de dizer que não tem tema nenhum).
Aludindo à crença na teoria do Big Bang, do nada passamos a ter tudo. E é do nada que nasce o todo que compõe os 180 episódios (divididos em 9 temporadas) de um programa de televisão que marcou uma década: Seinfeld.
O tema deste trabalho é precisamente a reflexão sobre como de “nada” se passa a ter tudo. Em Seinfeld, como se faz uma história, praticamente sem acção.
O “nada” está presente em todos os 180 episódios da série. No entanto, este estudo incidirá apenas sobre dois deles: “The Chinese Restaurant” (episódio 6 da 2ª temporada) e “The Parking Garage” (episódio 6 da 3ª temporada).
Porém, antes de partir para a análise dos dois episódios, é imperativo fazer uma breve análise de alguns dos aspectos mais importantes da série Seinfeld no seu todo.
O humor de Jerry Seinfeld, e da sua série, é um humor de observação, mais do que de situação. Seinfeld parte dos acontecimentos mais insignificantes do dia-a-dia e dá-lhes uma dimensão nova, primeiro decompondo e depois recompondo cada um dos momentos, naquilo que pode ser interpretado como uma tentativa de mostrar ao espectador que aquilo que ele toma como “pouca coisa” tem, na verdade, muita importância.
Cada episódio começa e termina sempre com cerca de um minuto de stand-up comedy de Seinfeld, a que se dá o nome de monólogo de abertura ou monólogo de fecho. Por vezes, como no caso dos dois episódios em estudo, o stand-up surge também a meio, como uma espécie de intervalo; Estes monólogos ajudam a reforçar a ligação entre o Jerry Seinfeld personagem da série e o Jerry Seinfeld real.
Uma das características que distingue Seinfeld das outras séries de “ficção” relaciona-se com o facto de as suas personagens serem “pessoas comuns ou reais” e não as personagens frequentemente idealizadas das séries de ficção, que pretendem conduzir o espectador para um mundo que não é, na verdade, o seu. As personagens centrais são Jerry Seinfeld (o protagonista que dá nome à série), George Costanza (seu amigo), Cosmo Kramer (vizinho de Jerry) e Elaine Benes (ex-namorada de Jerry).

Outra distinção que é possível fazer entre Seinfeld e a restante ficção sua contemporânea prende-se com o facto de, contrariamente ao habitual, as personagens, não possuem qualquer tipo de relação familiar ou de trabalho.

A fronteira que separa a realidade da ficção, em Seinfeld, é constantemente atenuada e até transposta. Um exemplo claro dessa situação é o episódio “The Pilot” onde Jerry e George tentam convencer a NBC e produzir uma série chamada “Jerry”, que os próprios descrevem como “uma série sobre nada”. Esta situação assemelha-se ao nascimento da série Seinfeld, quando Jerry Seinfeld e Larry David, os criadores, acordaram com a NBC a produção de Seinfeld, “uma série sobre nada”.

O facto de violar constantemente as convenções da ficção tradicional levou muitos críticos a caracterizarem Seinfeld como sendo uma série “pós-moderna”.

A série é frequentemente caracterizada como sendo o reflexo da «cultura auto-obsessiva» dos anos 90, por muitos considerado o auge do individualismo. Entre outros aspectos, essa característica pode relacionar-se com o facto de todas as personagens viverem sozinhas, tendo apenas relacionamentos ocasionais, não havendo, portanto, nenhum relação ou preocupação com o outro.
No início, em 1989, a série quase não tinha audiência. Ao longo dos 9 anos de exibição, Seinfeld criou uma comunidade de fãs que culminou, em 1998, com o último episódio a atingir uma audiência estimada de 76 milhões de pessoas. Mesmo volvidos quase 7 anos, a série parece ter resistido e estar ainda muito em voga, com o lançamento das primeiras 3 temporadas em DVD a atingir vendas altíssimas.
O público-alvo da série é descrito por Bruce Frett’s como “TV-literate, demographically desirable urbanites, for the most part – who look forward to each weekly episode in the life of Jerry with a baby boomer generation’s self-involved eagerness” (1).

Acima de tudo, importa frisar que, numa época de grande homogeneidade, onde se dá ao público o que o público quer, onde muitas vezes os interesses económicos impedem que se corram riscos, que se aposte na criatividade, Seinfeld prima pela novidade e pela diferença. Quebrando todos os cânones e não possuindo qualquer história de base, construiu uma série coerente e marcante que, não procurando nada além do mais simples humor, conseguiu alcançar uma dimensão quase filosófica: uma reflexão sobre o nada, as grandes pequenas coisas da vida. Uma reflexão descontraída e despretensiosa, mas não menos densa e complexa do que qualquer outra.

(1) FRETTS, Bruce. The Entertainment Weekly Seinfeld Companion, Warner Books, 1993. ISBN: 0446670367.

3 Comentários:

Às quinta-feira, fevereiro 17, 2005 2:21:00 da manhã , Blogger vera disse...

Só depois de postar isto é que vi que ficou gigantesco.
Sinceramente, não vos encorajo a ler.
Isto é mesmo de quem não tem mais que fazer... a cena é que tenho! Falta-me é vontade...

 
Às quinta-feira, fevereiro 17, 2005 1:12:00 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

pois, eu li e... epa o q é q eu axo? axo bem! lol e se isto é so a introduçao.. n quero saber cm vai ser o resto!! lol tadinha da malafaia.. tss tss lol *

 
Às segunda-feira, março 05, 2007 9:38:00 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! » »

 

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