sábado, julho 16, 2005

Leviathan, Paul Auster

Uma bomba explode e Benjamin Sachs, escritor, morre. Peter Aaron, o seu melhor amigo e também escritor, descobre essa triste notícia no início de Leviathan. A partir daí, resolve contar a história do amigo Ben, como forma de explicar o que levou à sua morte. A escrita de Peter é apressada, dado que ele pretende contar a história de Ben antes que o FBI escreva a sua própria história. Ainda assim, a descrição dos eventos que povoaram a vida do seu amigo é detalhada. Através das palavras de Peter, o leitor vai percebendo o que levou Ben a chegar ao seu último dia (e porque é que ele decidiu que seria assim).

Benjamin Sachs é um homem problemático. O seu principal problema é a constante procura de uma identidade própria e a sensação de não pertencer a lado nenhum. Oscila entre o homem de família e o mulherengo, corre entre momentos de sensatez e de desvario.

O ponto de vista de Leviathan é sempre o de Peter Aaron, o narrador, que mantinha com Ben uma relação algo estranha: melhores amigos desde o início mas com alguns acontecimentos menos esclarecidos a pautar essa amizade. As histórias de ambos entrecruzam-se várias vezes (pode dizer-se que temos o relato de duas histórias dentro de uma mesma história), sobretudo através das suas relações com outras pessoas (talvez Maria seja o exemplo mais claro).

O que temos em Leviathan é a complicada história de um homem, contada por outro homem. Ben procura, com a sua história, a sua verdadeira identidade. Peter, com a sua versão da história de Ben, parece procurar a catarse dos seus erros. Fala-se, portanto, da condição humana.

Paul Auster nega sempre associações destas mas não podemos deixar de notar que o nome do protagonista (Benjamin) é o segundo nome do autor (Paul Benjamin Auster) e que Iris (a esposa de Peter Aaron) é uma troca das letras de Siri, o primeiro nome da esposa do autor. Estas coisas nada têm que ver com a obra em si e são meras curiosidades (ainda que muitos gostem de insistir nelas).

Leviathan foi publicado em 1992 e foi a quinta incursão de Paul Auster na ficção (logo a seguir a The Music of Chance, publicado em 1990). Paul Auster é um dos melhores autores contemporâneos e, não sendo Leviathan a sua melhor obra, é um bom exemplo do talento do escritor.