sexta-feira, março 25, 2005

Seinfeld - Análise do episódio "The Chinese Restaurant"

“The Chinese Restaurant” é o episódio 6 da 2ª temporada da série. Foi um episódio que causa alguma polémica e é, ainda hoje, considerado o “episódio clássico” da série Seinfeld, aquele que melhor define a essência da série. Na verdade, a continuação da série esteve sempre em causa, dado que a audiência era muito fraca, até ao dia da exibição deste episódio, que alcançou recordes de audiência e lançou a série para 9 anos de sucesso.
“The Chinese Restaurant” é um dos dois episódios, juntamente com “The Parking Garage”, cujo enredo mais se aproxima do nada absoluto. Claro que nenhum dos episódios consegue atingi-lo, de outro modo o resultado seria uma série absolutamente estática. Ainda assim, “The Chinese Restaurant” aproxima-se da ideia do “nada” que está na base da série, uma vez que, fazendo uma sinopse da série, se constata que nada acontece: a história do episódio resume-se a Jerry, Elaine e George a esperarem por uma mesa à entrada do restaurante. Cerca de vinte minutos de episódio que quase por inteiro se resumem à espera. E, contrariamente ao que seria previsível, termina sem que eles consigam a mesa.
A meio do episódio, Elaine questiona-se: «What, in the name of God, is happening here?». A resposta mais imediata para esta questão, se algum dos presentes a tivesse dado, seria «nothing».
A série Seinfeld tem dois cenários principais que perduram pelos 9 anos da série: o apartamento de Jerry e o café “Monk’s”. Este episódio é um dos poucos em que nenhum destes cenários é usado, sendo, logo por isso, diferente dos restantes.
Uma das principais particularidades deste episódio é o facto de ser análogo a uma peça de teatro de um só acto e, mais importante que isso, sem divisão de cenas. O episódio apresenta-se apenas como uma longa cena. Uma cena de espera por algo que nunca chega (analogia com Beckett e a peça À espera de Godot).
A condensação do espaço é evidente (quase se chega ao extremo de ser possível descrever as “mini-rotas” de cada uma das personagens naquele espaço: George sempre a caminho do telefone e Jerry e Elaine sempre a caminho da bancada do empregado do restaurante).
Acrescenta-se à condensação do espaço a constante pressão temporal, causa da ansiedade das personagens. George precisa urgentemente de fazer um telefonema, mas nunca consegue; Elaine está esfomeada e não aguenta mais esperar por comida; Jerry está ansioso pela sessão de cinema que deveria seguir-se ao jantar. As três personagens centrais estão ansiosas por alguma coisa. Não esperam apenas uma mesa num restaurante.
E assim se começa a perceber que o episódio trata de algo mais do que querer uma mesa num restaurante e não consegui-la.
Cada personagem enfrenta as suas próprias pequenas angústias pessoais. Pequenos nadas que dão sentido a uma história praticamente inexistente. No entanto, várias personagens secundárias que vão aparecendo e desaparecendo, contribuem para a construção da narrativa. Como exemplo dessas personagens podem citar-se o empregado do restaurante ou os clientes que vão chegando e passando à frente do grupo, aumentando a ansiedade dos mesmos. Aqui se verifica também um outro aspecto importante: a acção é mais fortemente determinada (e influenciada) pelas personagens secundárias do que pelas principais, que estão praticamente à mercê das primeiras.
“The Chinese Restaurant” é um episódio que evidencia claramente as características mais importantes da série Seinfeld. Tomando como temas questões que geralmente não resultariam em qualquer narrativa, e fugindo às conveções da ficção da sua época, que subverte por completo, Seinfeld cria uma nova linguagem, uma nova narrativa e, sobretudo, um novo olhar sobre o mundo, sobre a realidade das pequenas coisas.